Lembro-me de que às vezes, eu chegava da escola e via numa
mesa da área, ao lado da cozinha, várias travessas de arroz doce. Cada uma de
um tamanho diferente, grandes, médias e pequenas.
Todas caprichosamente cheias daquele aromático doce. A
mistura do cravo e da canela enchendo a casa de sabor e alegria.
Eu não perguntava nada, só me lembro de dizer, huuuummmm!
Hoje tem arroz doce.
Mas percebia que só aparecia na nossa mesa, uma só daquelas
travessas, as outras nem se ouvia dizer.
E sempre foi assim, e sempre as mesmas travessas... Quando
me casei, fui morar fora e não tive mais notícias do arroz doce.
Quando voltei para BH, já com filhos, cheguei um dia na casa
de minha mãe e lá estavam as travessas do doce, com uma a mais, diferente, uma
travessa nova, mas muito delicada.
Aí então eu resolvi saber a história das travessas de arroz
doce, e perguntei para a minha mãe porque ela sempre distribuía o doce em
varias travessas e porque agora tinha uma a mais?
Minha mãe então esclareceu:
- Sempre que faço este doce, divido com as pessoas que
gostam, cada vasilha tem um dono e o tamanho é de acordo com a quantidade de
pessoas que vão comê-lo.
-E hoje tem uma travessa a mais, que é a sua, porque agora
você tem a sua família e também vai levar a sua parte.
Fiquei emocionada com aquele gesto tão tradicional e tão
generoso de minha mãe, que eu só fui perceber depois de tanto tempo de
convivência.
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